Como
surgiu a função de
diretor escolar?
Cargo
nasceu para organizar o trabalho nos grupos escolares
No
primeiro dia de aula de 1894, os alunos da recém-inaugurada
escola-modelo Caetano de Campos, no centro de São Paulo, estranharam
o ambiente. Até então, eles haviam frequentado classes improvisadas
na casa de um professor ou em prédios públicos mal conservados. A
gigantesca estrutura arquitetônica
do novo edifício - com 60 salas de aula, laboratórios, pátio,
biblioteca e museu - era o símbolo da renovação educacional
prometida com a Proclamação da República, em 1889. E o início de
uma nova organização: a dos grupos escolares, criada por
reformadores como Antônio Caetano de Campos (1844-1891), retratado
na ilustração.
Esse modelo, forjado
pela proposta iluminista republicana de racionalizar custos, exercer
controle e oferecer acesso à Educação para todos, reunia de quatro
a dez grupos de alunos, que até então estudavam isolados. As
crianças passaram a ser organizadas por classes seriadas de acordo
com o nível de conhecimento, com um docente para cada 40 pupilos.
Funcionários com formação diversa passaram a cuidar da aplicação
do currículo e do gerenciamento da escola. A fiscalização dessa
instituição não poderia mais ser realizada a distância pelos
inspetores. Era preciso ter alguém dentro da escola e, assim, surgiu
o cargo de diretor. Cabia a ele fazer a interlocução junto ao
governo e determinar as diretrizes administrativas e pedagógicas dos
grupos. A influência dele passou a ser tão grande que quem exercia
o posto era frequentemente convidado para assinar artigos em revistas
e jornais, fazer conferências e se tornar conselheiro de secretários
de estado. João Lourenço Rodrigues (1869-1954), inspetor geral de
ensino de São Paulo, assinalou em relatório de 1908: "A
escolha do diretor é uma questão de vida ou morte. Pode-se dizer,
em geral, que tanto vale o diretor, tanto vale o grupo".
Essa concepção de
organização escolar espalhou-se durante as três primeiras décadas
do século 20 para estados do Sul ao Nordeste. Porém o ideal
republicano de Educação para todos, tendo os grupos escolares como
embrião, não se concretizou. A falha foi pedagógica e também
material. A homogeneização das classes otimizou recursos e
esforços, mas a escola republicana gerou altos padrões de seleção
e exigência - que acabaram por excluir as crianças de classes menos
favorecidas. Concebida para ser do povo, tornou-se das elites.
Faltaram professores qualificados, estrutura para atingir o interior
e atender toda a demanda gerada com o crescimento demográfico e
recursos para a construção de novos estabelecimentos nos padrões
de excelência da Caetano de Campos. Em 1920, o estado de São Paulo
tinha 67,9% das crianças em idade escolar fora das salas e 74,2% da
população era analfabeta.
A despeito do
fracasso desse modelo, ele durou até meados de 1970 e a estrutura
dos primeiros anos do Ensino Fundamental, hoje, é praticamente a
mesma dos grupos escolares da Primeira República (1889-1930).
Problemas como infraestrutura e formação de professores continuam
em pauta. De positivo, permanecem apenas a importância do diretor -
agora reconhecido como gestor - e seu papel decisivo na realização
do sonho republicano de uma escola pública de qualidade para todos.
Gustavo Heidrich (novaescola@atleitor.com.br)
Quer saber mais?
O Legado Educacional do Século
XIX, Dermeval Saviani e outros, 235 págs., Ed. Autores Associados.
História das Ideias Pedagógicas no Brasil, Dermeval Saviani, 492 págs., Ed. Autores Associados.
História das Ideias Pedagógicas no Brasil, Dermeval Saviani, 492 págs., Ed. Autores Associados.
Disponível
em:
<http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/surge-diretor-escolar-482307.shtml>.
Acesso em: 28/07/2013.
“É preciso, (...) libertar o diretor de sua marca antieducativa, começando por redefinir seu papel na Unidade escolar. À escola não faz falta um chefe ou um burocrata; `a escola faz falta um colaborador, alguém que, embora tenha atribuições, compromissos e responsabilidades diante do Estado, não esteja apenas atrelado ao seu poder e não se coloque acima dos demais.”
ResponderExcluirVitor Henrique Paro (1997, p.112)